Olga Ramirez era vendedora de rua nas Honduras, num terminal de autocarros que foi privatizado.
"Expulsaram-nos como cães, como lixo, como se não tivéssemos valor no país, e eu não encontrei outro emprego para alimentar a minha família", contou a jovem migrante à agência de notícias France-Presse (AFP), em lágrimas, mas sem nunca abrandar o passo.
Com um filho de três anos nos braços, e mais três de oito, seis e cinco anos, Olga Ramirez, de 28 anos, percorre a pé a Guatemala, para tentar chegar aos Estados Unidos, juntamente com o marido e um irmão.
A família faz parte dos cerca de nove mil hondurenhos que conseguiram atravessar a fronteira entre as Honduras e a Guatemala nos últimos dias, enfrentando vários cordões policiais e os riscos da longa viagem a pé.
Depois de atravessar a Guatemala, uma viagem de cerca de 450 quilómetros, a família espera conseguir entrar no México, último país antes do destino final, o Eldorado americano.
Olga transporta todos os pertences numa mochila e calçou sapatilhas para facilitar a caminhada. Dois dos filhos seguem num carrinho de supermercado.
A jovem mãe admite que é perigoso fazer a viagem com menores, mas diz que não tem alternativa.
"Se ficarmos nas Honduras, corremos o risco de só comer dia sim, dia não. Se deixarmos o país, corremos o risco de que algo nos aconteça. Mas se conseguirmos entrar nos Estados Unidos e eles nos derem asilo, o nosso objetivo é trabalhar e sustentar a nossa família", explicou à AFP.
"Lá [nas Honduras] não há nada, não há trabalho, e os meus filhos têm fome, por causa do desemprego. Não há ajuda do Governo", lamentou.
Jairo, o irmão de Olga, acredita que o Governo guatemalteco está a tentar travar o avanço dos migrantes, através de postos de controlo em estradas estratégicas que conduzem ao México.
"Não querem que a caravana chegue aos Estados Unidos, querem que se disperse. Temos o direito de migrar, de sair das Honduras, de sair da Guatemala. Vamos avançar, eles não serão capazes de nos deter", defendeu.
Os migrantes dizem estar a fugir da miséria nas Honduras, devastada por dois fortes furacões em novembro e pela pandemia de covid-19, num país que, além disso, sofre de violência endémica, devido aos gangues e ao tráfico de droga.
"Somos pobres, não temos trabalho. Tudo piorou com os furacões e a pandemia", queixa-se Jairo, que era vendedor ambulante, tal como a irmã.
Os migrantes hondurenhos depositam as suas esperanças no Presidente eleito norte-americano, Joe Biden, que toma posse na quarta-feira, esperando um relaxamento da política de imigração dos Estados Unidos, apesar de Washington já ter rejeitado essa possibilidade.
O México também advertiu que não permitirá a entrada de migrantes em situação ilegal. No sábado, as autoridades mexicanas exortaram a Guatemala a ter em conta "oportunamente" o fluxo de migrantes, "de forma a prevenir novas deslocações".
Os migrantes partiram a pé de San Pedro Sula, a segunda maior cidade das Honduras, 180 quilómetros a norte de Tegucigalpa, capital do país.
O executivo da Guatemala decretou na quinta-feira estado de alerta em sete departamentos do país, o que permite à polícia utilizar a força para dispersar grupos.
As autoridades guatemaltecas informaram no sábado que 992 migrantes foram obrigados a regressar às Honduras nos últimos três dias, incluindo 163 menores, por entrada ilegal no território, e asseguraram que não vão deixar passar os restantes.
"Não podem passar e não vão passar", disse o diretor do Instituto Guatemalteco de Migração, Guillermo Díaz, segundo a agência de notícias espanhola Efe.
O funcionário falava no município de Quetzaltepeque, perto da fronteira com as Honduras, onde as forças de segurança mantêm barreiras para tentar impedir a passagem dos migrantes.
A falta de emprego, insegurança e violência são as razões pelas quais muitos hondurenhos migram todos os dias para outros locais, de acordo com organizações de direitos humanos.
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